sexta-feira, 6 de julho de 2012

Resultados

(A última motivação para esse texto foi futebol, o que me levou a ficar na dúvida em qual blog postar. Na dúvida, postarei nos dois).




Diz um ditado educadinho que "opinião é que nem bunda - cada um tem a sua". Sobre qualquer assunto, qualquer um pode falar o que quiser - a batatada que for. Faz parte. O problema é determinar quem tem razão.



No excelente livro "O que devo fazer da minha vida?", uma das historias que o autor Po Bronson conta é sobre um roteirista de Hollywood. Em um momento, para contextualizar a situação que está descrevendo, ele explica uma certa lógica do funcionamento das coisas por lá. Os elogios são tão fartos e fáceis que a melhor maneira de se determinar o quanto cada um é realmente bom (ou quanto vale) é pelo simples preço que é oferecido para se contratar esse alguém (roteirista, ator, diretor...). Ou seja, quem está lá há tempo suficiente já aprendeu que um comentário "nossa, você estava tão bem naquele filme!" vale muito menos do que um "te ofereço xyz milhões para fazer meu próximo filme"...



Recentemente, decidi prestar um concurso público e, para tanto, tive que entrar de cabeça nesse mundo paralelo que é o mundo dos concursos; aprender a estudar, saber como e por onde aprender as disciplinas etc etc etc. Ajudou-me muito as dicas de pessoas mais experientes e de especialistas no assunto. O problema é que tem muita informação e muita gente dizendo coisa muita diferente. Só que tem um cara que fala X e já foi aprovado em 4 concursos concorridos (todos nas primeiras posições) e outro que fala Y e tá há 3 anos estudando para passar....qual dos dois você vai ouvir?



Não conheço outro assunto com mais espaço para divergências e opiniões diferentes do que futebol (aí falando mais do plano tático, de como jogar, do que fazer, e não da paixão em si - essa sim incontornável). O técnico arma o time de um jeito e um lado da torcida pensa "que imbecil!"; se ele mudar, é o outro lado que vai pensar a mesma coisa. Nâo tem jeito. Qual o melhor jeito de estabelecer, no fim, quem estava certo? Alguém ganhou, alguém foi campeão - esse é o jeito menos enviesado de saber quem tinha razão. Há sorte, há fatores circunstanciais, mas no conjunto da obra, o resultado é muito menos subjetivo do que um simples "ah, eu acho que...".



Resultados as vezes apagam erros, sobrevalorizam esforços em certas direções. Nâo tem jeito. Mas não arrumaram ainda jeito mais objetivo de medir quem estava certo no que estava fazendo. Se a sua opinião é que há um outro jeito melhor de fazer, em algum momento esse jeito de fazer vai mostrar resultados. Se não mostrar, então por mais que você invente teorias mil para explicar, você está errado.

terça-feira, 26 de junho de 2012

A bendita sacolinha

Parece uma questão interminável...
Para mim sempre pareceu natural que a medida de não distribuir "de grátis" as benditas fosse tomada em algum momento. Talvez porque nas minhas pouquíssimas viagens internacionais, em todo país já fosse assim. Você quer sacola, você compra. Se não leva na sua bolsa, leva uma mochila de casa, enfim, se vira.

Mas ultimamente eu não tenho sido muito de aceitar as coisas como naturais e tenho tido uma curiosidade de ouvir opiniões diversas. Quando pela primeira vez ouvi alguém perguntar "e como é que faz com o lixinho do banheiro e da cozinha? e para catar o cocô do cachorro?", pensei que eram argumentos interessantes. Do outro lado, não ouvi respostas muito convicentes. E agora, José?

O argumento de defesa do consumidor contra um ganho de lucratividade dos supermercados me parece um falso argumento. É uma visão de curto prazo. Isso é, estão dizendo que os supermercados vão lucrar mais porque agora não tem de dar a sacolinha, e estão vendendo a retornável. O contrargumento é que, no longo prazo, pelo setor varejista ser muito concorrido, em especial em preços, alguém irá jogar essa margem para os preços e todo mundo terá de seguir para competir. Faz sentido. O que não faz sentido é, se a sacolinha for mesmo a praga que é, não achar outra solução pelo "direito do consumidor".

Outro dia o onipresente presidente do Instituto Akatu, que dá umas vinte entrevistas por dia, tava falando sobre os lixinhos. A idéia dele é fazer aqueles "sacos" de papel reciclável ou, como os lixinhos são de plástico duro, deixar de usar os saquinhos e lavar os lixinhos de tanto em tanto tempo. Não pude controlar o pensamento "esse cara tem uma empregada que vai fazer isso para ele...".

Tudo considerado, acho que passa por um princípio básico de finanças públicas: externalidades. Se alguma atividade econômica traz externalidades negativas, isso é, traz más consequências que não são arcadas pelos participantes do negócio (e sim pela sociedade como um todo), essa atividade deve ser desestimulada. O que dizer de incentivada! Dar sacolinhas plásticas é incentivar uma atividade que traz fortes externalidades negativas. Não faz sentido. Se a gente quer usar a sacolinha no lixinho ou para catar o cocô do cachorro, beleza; mas que paguemos por isso. Receber de graça significa não controlar, usar mais do que o necessário, por 2 ou 3 sacolinhas para não vazar, jogar fora porque uma alça quebrou e coisa do tipo. Pagando, se controla mais e, se for o caso, buscar outras soluções. Mas buscar porque se escolheu assim. Eu não baniria as sacolinhas; só colocaria um preço não irrisório para quem quiser comprá-las.


Não ter a sacolinha nem para vender é um problema. Muitas vezes estou no meio do caminho e só preciso comprar uns 2 ou 3 itens. Mas não levei a sacola retornável e não vou comprar outra só para 3 ou 4 itens. Nem vou carregar na mão. Aí não passo; eu fico sem, o supermercado não vende.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Como funciona

Eu tinha uns 20 anos, estava no quarto ano de faculdade e tinha um ano e pouco de estágio. A empresa fazia contratos de estágio de 1 ano. Ao final do contrato, havia uma discussão de como o estágio tinha andado e do que fazer pro futuro. No meu caso, recebi um bom feedback, mas como não havia vagas na minha área, meu contrato de estágio foi prorrogado por mais um ano. Nesse momento eu fiz questão de pontuar que meu objetivo era ser efetivado e, a partir de então, passei a cobrar meus superiores com uma frequência de, digamos, 2 em 2 meses, sobre em que pé estava a coisa. E a conversa ia sempre na linha de "olha, você tá indo muito bem, mas sabe como é, ainda não tem vaga, tenha um pouco de paciência...".




Quem já passou por isso sabe como é. Em poucos meses de estágio você está fazendo trabalho de analista, só que ganhando um terço (entre salário e benefícios) do que deveria ganhar. Aos poucos sua paciência vai se esgotando...



Um belo dia eu descobri que havia uma regra de aumento para estagiários. Era coisa pequena, tipo 10%, e só era dado para um %, os considerados "melhores". Pedi para o meu chefe e ele ficou de averiguar. Alguns dias depois ele me chamou, e falou que não ia rolar, por conta de uma burocracia etc e tals, mas de novo falou para ter paciência, que agora estava perto de acontecer o que eu queria (efetivação). Com alguma educação, expressei o meu descontentamento, e o desafiei dizendo "pô, como eu posso acreditar nisso, se nem um simples aumento de 10% vocês conseguem?". Ele, com paciência, deu um sorriso de canto de boca e falou "as coisas não funcionam assim". Uns 2 meses depois houve uma reestruturação na área, abriram vagas e eu fui efetivado. Meus rendimentos totais quase triplicaram.



Esse poderia ser um texto sobre "cobrar", brigar pelo que vc quer, mas não é. Só alguns anos depois, quando me lembrei disso, consegui imaginar o que meu chefe, naquela conversa, pensou ao dar aquele sorrisinho. Com alguns anos de experiência do mundo do corporativo, tive mais clareza do que ele quis dizer com "as coisas não funcionam assim". Efetivar alguém depende de você ter vaga; as vezes pessoas muito competentes acabam não sendo aproveitadas enquanto outras, com menos tempo e dedicação, acabam sendo efetivadas pelo simples fato de que em uma área não havia vaga e na outra, sim. É claro que um desempenho bom sempre ajuda; se o chefe tem um estagiário muito bom na área, ele fará todos os esforços possíveis para arrumar uma vaga. No caso em voga, esse "aumento" de 10% seguia uma burocracia gigante. Era controlado pelo RH, que fazia um ranking dos estagiários, e os parâmetros para estabelecer quem seriam os primeiros eram bastante confusos; cada chefe tinha que ir lá brigar e, como quase tudo em empresa, o fator político contava bastante. Enquanto que efetivar alguém, tendo vaga, era tarefa muito mais fácil: é só o chefe da área dizer "nessa vaga vai fulano" e, pronto, está feita a festa.



Agora o sorrisinho: imagino que o que ele tenha pensado é o que costumo pensar, em algumas situações, escutando uma certa formulação lógica. A pessoa faz uma asserção que, pela sua lógica interna, é incontestável. Fazia todo sentido para mim imaginar que um aumento de 10% fosse mais fácil conseguir do que uma efetivação e, portanto, se não consegue-se o mais fácil, o que dizer do mais difícil...O problema aqui, no entanto, é a premissa. E era uma premissa errada, de quem não conhecia o sistema, simplesmente por falta de experiência, por não ter vivido, por não conhecer de perto. E ele nem tentou me explicar isso, justamente porque, nessas horas, não adianta explicar. Tem de conhecer para saber como funciona e, certas coisas, só vivendo para saber.