domingo, 30 de janeiro de 2011

sit and go

O sit and go (single table) é uma forma de poker muito popular; a maioria dos jogos organizados em casa é assim, assim como quase todo mundo que começa a jogar pela internet prefere essa forma. Trata-se de uma mesa (na internet de 9 ou 10 jogadores, em jogos em casa depende do tamanho da mesa e da quantidade de jogadores disponíveis...), com uma faixa de premiação determinada: o primeiro lugar leva tanto, o segundo leva tanto etc, sendo quem for eliminado (ficar sem fichas) no meio do caminho fica sem nada.
Os grandes jogadores do mundo, que acumulam milhões em prêmio, não são conhecidos por jogarem sit and gos (embora possam jogar esporadicamente); seus grandes prêmios vem de torneios grandes, com muitos participantes; disputar e conseguir uma premiação em um grande torneio também é o sonho de quase todo mundo que joga poker - de fato, todo jogador um pouco menos esporádico logo se cansa do sit and go e começa a jogar torneios multitable (várias mesas).
Ainda sim, lendo a entrevista de um profissional de sucesso esses dias, outra vez esse aspecto veio à tona: o entrevistador perguntou a ele, se ele tivesse de recomeçar a carreira no poker, onde ele começaria, e a resposta foi "começaria jogando sit and gos de valor abaixo até conseguir estar batendo (jogando de forma vencedora) os de 25 dólares; daí começaria a diversificar para outras formas de jogo. E já li / ouvi isso de outros profissionais, o que coaduna com algumas impressões que eu tinha. Embora nem de longe o sit and go seja a forma "mais nobre" do poker, apresente uma baixa rentabilidade e, para quem domina as estratégias dessa forma do jogo, torne-se automático e com pouco espaço para criatividade, ainda sim é uma maneira muito produtiva de começar o contato com o jogo. Os motivos que eu visualizo para isso são:

- disponibilidade e emoção: tanto para a internet quanto para jogos organizados em casa, é muito mais fácil reunir 7 ou 8 amigos e formar uma mesa de jogo do que juntar, digamos, 40 para formar um torneio maior. Na internet, sit and gos começam as duzias a qualquer hora do dia, enquanto um torneio grande tem data e hora marcada para começar. Ainda sim, oito pessoas reunidas na casa de alguém poderiam jogar o cash game, que é aquele jogo de apostas sem uma premiação determinada para alguém, mas você ganha ou perde fichas que são diretamente ligadas a um valor financeiro. Todavia, para a maioria das pessoas, é muito mais emocionante jogar um torneio que contem a possibilidade de um grande lucro (digamos, pagar 10 reais para jogar e ter a possibilidade de ganhar 80) do que jogar um cash game e, 3 horas depois, ficar "5 reais para cima ou para baixo" do valor que começou jogando.

- menos variância. O ROI (retorno sobre investimento - sim, é o mesmo conceito do mercado financeiro) que um jogador competente pode esperar de um sit and go é bem menor do que sobre um torneio multitable (várias mesas). Por ex, um ótimo jogador de sit and go pode conseguir um retorno de 15% sobre tudo o que joga, enquanto um ótimo jogador de grandes torneios pode chegar a 100% de roi. Só que para grandes retornos, grandes riscos envolvidos. O poker é um jogo de alta variância; significa que a distância entre os resultados esperados e os resultados reais pode ser grande por um tempo. Para por em termos práticos: imagine que um determinado torneio que ocorre toda semana premie os 10% melhores classificados. Um jogador breakeven (alguém que, no longo prazo, não perde nem ganha dinheiro) poderia esperar, então, ficar na faixa de premiação 1 a cada 10 torneios que ele dispute. A diferença entre um bom jogador e um jogador ruim poderia ser, por ex, que o primeiro fique na faixa da premiação 15% das vezes (portanto, 50% a mais do que os jogadores medianos) e o segundo fique 7% (2/3 do que os jogadores medianos). Esse é um conceito importante: muita gente pode imaginar que um jogador bom deveria ganhar sempre contra um jogador ruim, mas não é assim - a diferença é um percentual maior de sucessos que, no longo prazo, ditará os lucros e prejuízos. Por conta disso, um grande jogador pode chegar na faixa de premiação em 3 torneios seguidos, mas aí ficar 30 torneios sem entrar na premiação. Acontece, e com frequência. O que previne o jogador bom de falir ou pirar nessa fase de "seca" , além de uma ótima preparação financeira, tendo a banca suficiente para jogar os torneios que joga, é saber que tem jogado certo - o que so vem com muito estudo, revisão de mãos etc. Os sit and gos apresentam menos variância - é possível um bom jogador ficar muito tempo sem premiar ou premiando pouco, mas é menos frequente. As "variações" são menos bruscas do que para quem joga grandes torneios. Isso pemite com que jogadores iniciantes se assustem menos com o jogo e consigam formar uma banca mais parruda para, mais a frente, jogar torneios maiores.

- tempo dedicado: um sit and go na internet dura uns 40 minutos. Um grande torneio pode durar umas 8 horas.

- habilidades que o sit and go desenvolve: boa parte de um sit and go se desenvolve quando os jogadores tem um stack (quantidade de fichas) pequeno, de menos de 13 bbs (a aposta mínima). Essa fase do jogo é totalmente matemática - com base em uma metodologia chamada ICM (independent chip model), pode-se determinar com exatidão qual a jogada correta a ser feita, de acordo com certos parâmetros. Bons jogadores de sit and go estudam tanto certas situações comuns do jogo que acabam sabendo de cor, quase instintivamente, o que fazer em cada caso. Essa habilidade, quando o jogador migrar para torneios grandes, será fundamental nas situações dos torneios quando ele estiver com um stack pequeno. De fato, é comum você ler um blog, artigo de revista ou até um livro de grandes jogadores de torneio que simplesmente não sabem como jogar "short stacked" - advogam certos tipos de decisão que qualquer jogador bom de sit and go sabe estar completamente errada.

- capacidade de jogar muitas mesas ao mesmo tempo: como falado antes, o sit and go tem uma rentabilidade reduzida. Assim, a única maneira de alguém ser lucrativo nessa forma de jogo é jogar muitas mesas ao mesmo tempo - os principais jogadores conseguem, com a ajuda de softwares que agilizam o jogo, jogar até 24 mesas ao mesmo tempo. Alem disso, a estratégia desse tipo de jogo, que acaba se automatizando, facilita esse acúmulo de mesas - depois de certa prática as decisoes acabam sendo mais rápidas. O desenvolvimento dessa habilidade de jogar várias mesas ao mesmo tempo é crucial para um jogador que quer se tornar lucrativo - aumentar a quantidade de mesas que se joga por vez, com a premissa de que sua habilidade não esteja sendo diminuida por isso, pode duplicar ou triplicar o quanto se ganha por tempo jogado. Um outro fator é que as variações da "sorte" te afetam menos: quando se está jogando 10 mesas ao mesmo tempo, e alguém que chamou sua aposta de par de ases com 86 de naipes diferentes acerta um straight e te elimina, isso te afeta bem menos - você simplesmente abre outra mesa e continua as outra nove...agora, se você estiver jogando apenas 1 mesa de um torneio que já estava jogando há 4 horas e essa "má sorte" acontece, haja equilíbrio emocional...

sábado, 22 de janeiro de 2011

Franqueza

Por indicação de uma pessoa próxima, comecei a ver o seriado "Boston Legal". Assisti os 2 ou 3 primeiros episódios com desconfiança, achei meio escrachado - depois passei a gostar e tenho assistido com frequência. Trata-se do dia a dia de um escritório de advocacia em Boston (jura?); é um semi-drama/semi-comédia, que usa o pano de fundo dos casos e julgamentos nos quais os personagens se envolvem para discutir as questões pessoais dos personagens (relacionamentos, diferenças psicológicas, família) e grandes questões da sociedade americana (racismo, ambiente, política internacional, pena de morte). Tudo isso com um toque de humor que, embora tenha momentos de zorra total, no geral é muito bem feito.
Mas a idéia do post vem de um capítulo que assisti hoje. Nos EUA, assim como no Brasil, um objetivo na carreira de um advogado em uma firma é tornar-se sócio (apêndice: não sou advogado e não conheço o mundo jurídico, em especial americano, mas meu feeling é que podemos confiar muito mais nesses seriados americanos em sua preocupação em não fugir a realidade´da sociedade de lá do que, por ex, nas novelas da globo; porque não é verdade que seja viável que alguém tome em segredo 60% das ações de uma empresa ou que descubra-se que o seu pai na verdade é aquele cara que acabou de chegar da Itália, como acontece em 2/3 das novelas...).

No seriado, o processo de "aceitação" de novos sócios se dá por meio de uma votação que acontece de tempos em tempos, nas quais os candidatos são os advogados seniors que vem tendo bons resultados etc. Nesse episódio, uma personagem antiga - uma advogada senior que sonha em ser sócia - começa a ter birras com uma nova advogada contratada. De fato, essa nova advogada contratada é uma fdp que não tem escrúpulos para "mostrar serviço", e um bom sarro é feito dessa rixa entre as duas. E a rixa, pelo lado da personagem mais antiga, é estimulada pela idéia de que as duas competem pela vaga de sócia na próxima eleição. Bom, o assunto acaba quando uma das grandes sócias da firma chama as duas para conversar, dá um grande esporro, pede para as duas acabarem com as criancices, mas quer conversar a sós com a personagem antiga, de quem é, inclusive, amiga. E ela fala para essa advogada antiga que ela não vai ser sócia nessa próxima eleição, por conta de uma série de questões, e ainda complementa "não sei o que deu na sua cabeça para achar que vc estava competindo com a outra; quando a contratamos (a nova), ela trouxe um monte de clientes, e já era nossa idéia fazê-la sócia na próxima eleição", deixando claro o que, na verdade, já dava para sacar desde o início.

É só um seriado; mas juntando com tudo o que eu já vi de representação da sociedade americana, junto com coisas que você vê quando viaja para lá, com relatos de gente que mora ou morou lá, ou trabalha com americanos etc, parece-me que eles cultivam uma coisa que nos falta aqui, em especial no mundo corporativo: a franqueza. Não aquela insensibilidade de falar a verdade doa a quem doer - o que até pode ser um efeito colateral - mas aquela franqueza de "é melhor você saber o que se passa do que ficar se enganando".

Com algumas exceções, o padrão que encontrei nos meus empregos era assim: não havia feedback, era superdifícil haver situações onde os chefes comunicavam claramente aos funcionários como eles estavam indo, o que era esperado deles e o que eles (empregados) podiam esperar. Em contrapartida, os empregados estavam sempre esperando uma promoção, um aumento de salário, mesmo que não houvesse a menor perspectativa de que isso pudesse acontecer. Para piorar, muitas vezes encontrei a situação de que, quando um desses funcionários ia reclamar ou perguntar ao chefe sobre a sua situação, a desculpa era sempre de que "não havia verba", ou "agora não dá", mesmo que, no caso aquele funcionário específico, não houvesse nenhuma razão para ele esperar ter um aumento em breve, mesmo que verbas estivessem jorrando pelas torneiras do banheiro...

Ok, as pessoas são toscas e, no geral, tem muita dificuldade em compreender o que se passa a sua volta - mas não custa alguém deixar claro para elas. Qual é o problema em ser franco? Porque não virar para o seu funcionário e dizer "olha, para a sua atividade, o seu cargo está adequado e o seu salário está justo; se você quer ser promovido para o cargo x, o que a empresa espera de você é que vc seja capaz disso, daquilo e daquilo outro; quando você começar a mostrar essas qualidades a gente pensa em promoção"? Minha opinião é que estamos sempre permeados com a mentalidade do "coitadinho" - "ah, mas eu vou falar isso para ele?". Po, você não tá falando que o outro é feio que dói e que as piadas dele são sem graça; você tá falando uma coisa objetiva, e que, se ele não for uma adolescente de 16 anos que vai ficar magoado, só vai ajudar a crescer! Um outro motivo é justamente o benefício que os chefes acham que ganham com a não clareza; existe um sentimento geral de que, se as coisas forem claras - "você não vai ter aumento" - as pessoas vão começar a se mexer, procurar um outro emprego e aí o chefe vai ter que se coçar para colocar alguém no lugar. Primeiro que não sei se isso é verdade - acho que a maioria gosta de reclamar mas não gosta de se coçar para mudar. E depois que, se assim o for, e daí? Só estamos construindo uma sociedade de pessoas que gostam de "enrolar" - você finge que me enrola, eu finjo que sou enrolado...

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Esses políticos...

hoje tava atravessando a rua e ouvi, de passagem, uma véinha reclamando com alguém do lado algo que não entendi direito, mas era algo "esses políticos são tudo safados". Em tempo de tragédia das chuvas, imprensa descendo o cacete nos governos (parece que 15 dias de chuvas e 20 mortes em São Paulo são mais pano para o assunto "incompetência" do que uma noite de chuva e 700 mortos no RJ), esse tema sempre vem a moda: políticos corruptos, incompetentes, preocupando-se só consigo mesmos.

A sensação que eu tenho quando escuto isso tudo, ultimamente, é só uma: vão te catar! Políticos são incompetentes? Acho que, no geral, brasileiro é incompetente...então, por derivação lógica, políticos também o são! São corruptos? O pouco que eu sei diz que, na sua maioria, são sim...mas e aí? Políticos são extraterrestres que chegaram na Terra por naves espaciais e tomaram o poder à força? São estrangeiros da nação colonizadora que nos domina? Pois é, são brasileiros que nem todos nós, colocados no poder por vontade popular.

Em quem você votou na eleição de 2006 para deputado? você lembra? sabe alguma coisa que esse cara fez nesse período? E para Senador? Como ele votou nos principais projetos votados? Em quem você otou para governador? Para prefeito? Você tem alguma noção de como evoluiu - ou não evoluiu - educação, saúde, transportes, nos últimos anos? Tem alguma opinião sobre o que - e como - deveria melhorar? Que propostas são viáveis e quais são viagens na maionese? Nas suas reuniões sociais no almoço de domingo, no boteco do happy-hour, esse tipo de assunto discutido? Quando tem debate ou entrevista de algum candidato você assiste ou muda pro bbb?

Se você respondeu não a várias dessas perguntas, eu não sou muito diferente de você...mas eu não fico resmungando "ah, esses políticos..." como se eles fossem as únicas causas do problema. Eles são um retrato da sociedade - como disse Lula em uma das frases que compõe os 2% de asserções dele que não são completas bobagens. Tivemos um governo federal que foi completamente inerte nos últimos anos; a saúde piorou, a educação estagnou, a segurança pública foi completamente abandona, diminuiu-se o investimento em estrutura, aumentou-se o tamanho e a ineficiência de estado. O país se desindustrializou, voltamos a ser um grande exportador de bananas. Seu grande trunfo foi pegar parte da grana entrando por conta do boom da economia internacional e redistribuir pros mais pobres. Se a corrupçao não aumentou, tivemos a incrível novidade do "pode roubar que os pobres tão comendo mais, bola para frente", a institucionalização da roubalheira. E elegemos alguém, para mais quatro anos, cuja única 'qualidade' era ser indicada pelo hómi. E a imprensa, toda raivosa agora? Onde tava durante todo esse período? Falar mal do governo e dessas coisas só pode em tempos de crise, onde as pessoas estão alarmadas e, agora, dá audiência? Ninguém via que, só como ex, não fazia sentido apregoar uma política de segurança pública que não prende ninguém? (upps no rj) Pq ninguém rebatia os inúmeros dados mentirosos e falácias que o governo lança sobre saúde, educação etc durante todo esse tempo?

Vão se catar. Nós temos os governantes que merecemos.

domingo, 2 de janeiro de 2011

inteligência

Há tempos que compartilho da opiniões de algumas teorias novas da psicologia sobre a inteligência: que é algo muito maior e mais complexo do que aquele conceito tradicional de inteligência racional, lógica e matemática com o qual estamos acostumados. Ontem, na estrada, ouvindo um cd do legião e percebendo (de novo) a genialidade de algumas letras, lembrei-me de um amigo, que considero entre as pessoas mais inteligentes que já conheci; não porque ele seja especialmente bom com números, pq pense muito rápido ou seja muito bem sucedido profissionamente, mas porque tem uma sensibilidade e capacidade de observação das coisas do mundo fora do normal. Comecei a pensar em algumas letras do legião, junto com a composição musical, e a minha conclusão foi: quão genial um cara tem que ser para fazer isso? que sensibilidade de perceber esses sentimentos, notar que aquilo é algo comum, que encontrará terreno em outras pessoas, e escrever letra, compor melodia, arranjos, de forma harmoniosa e que se completem? pode ser talento, dom, mas para mim, é muita inteligência...de uns tempos para cá passei a gostar muito do Marcelo Camelo / Los hermanos, então, além das do legião, tbém cito algumas passagens dele de que gosto bastante.

disseste que se tua voz, tivesse força igual, a imensa dor que sentes...teu grito acordaria, não só a tua casa, mas a vizinhança inteira...

não há ninguém capaz, de ser isso que você quer...vencer a luta vã, e ser o campeão, pois se é no 'não' que se descobre de verdade...

longe dessa confusão, e dessa gente que não se respeita, tenho quase certeza que eu não sou daqui...

eu sei, que a tua solidão, me dói...é que é preciso ser feliz...mais do que somos todos nós...você supõe o céu...

pro meu vício de insistir, nessa saudade que eu sinto...de tudo que eu ainda não vi...

que os bravos são escravos, são e salvos de sofrer...

se a gente ja não sabe mais, rir um do outro meu bem, então o que nos resta é chorar...