quinta-feira, 16 de junho de 2011

bom senso ou lógica?

Muitas vezes, o que é considerado "bom senso" vai sensivelmente contra ao que levaria uma análise lógica, mais racional. Exemplos disso são muito comuns, mas por conta de assuntos que precisei aprender recentemente, dois casos específicos me ocorreram.

1- Imagine uma eleição para governador de Estado. Os candidatos são João, José e Joaquim. O total de votos válidos nesse Estado para essa eleição foi de 100 mil votos, tendo João ganho a eleição, no segundo turno, contra José. Algum tempo depois, o TSE descobriu irregularidades na candidatura de João, impugnando o seu mandato. Qual a solução? Toma posse José, o segundo colocado na disputa eleitoral. Nada mais correto, correto?

Errado. E não, necessariamente, do ponto de vista jurídico, mas do ponto de vista lógico.

Ora, a maioria da população escolheu um candidato (João). Depois, apurou-se que o processo não foi válido, por conta de irregularidades, portanto esses votos não poderiam ser computados. Atribuir o resultado da eleição sem considerar os votos de quem votou em João (a maioria) é tomar uma decisão alijando a maioria da população do processo! Nada implica em que, estando João fora do páreo, José (e não Joaquim, o terceiro colocado), fosse eleito. Para deixar o argumento mais claro, vamos exagerar o exemplo. Imagine que João houvesse sido eleito com 80 mil votos, ficando, respectivamente, em segundo e terceiro lugares, José, com 12 mil votos, e Joaquim, com 8 mil. Ora, excluídos os 80 mil votos de João do processo, a diferença de 4 mil de José para Joaquim é insignificativa perto dos 80 mil votos que foram impedidos de manifestar sua decisão.

Recentemente, o STE decidiu pela eleição do segundo colocado em eleições onde o vencedor foi impugnado. Deveriam ter sido convocadas novas eleições, obviamente sem a presença do candidato impugnado.

2- Nas eleições para deputado funciona o tal do sistema proporcional. Divide-se o total de votos válidos (excluindo-se os nulos e brancos) pelo número de cadeiras a ser preenchidas para achar o Quociente eleitoral, e o número de cadeiras que cada partido vai ocupar é quantas vezes o número de votos desse partido alcançou esse Quociente. Vejamos um exemplo: imagine que, em um estado, há 30 cadeiras a ser preenchidas e 90 mil votos válidos; o Quosciente eleitoral será, então, de 3 mil votos. Imagine que partido A e partido B consigam, respectivamente, 5 mil e 61.500 votos; em uma divisão que desconsidera o "resto", o partido A ocupa uma vaga só e o B ocupa 20. Mas o que se faz com o resto da divisão? Excluindo-se o resto sobram cadeiras a ser ocupadas, - como computar quem fica com as sobras? A solução que melhor se apresenta é um "arredondamento", privilegiando a quem falta menos para chegar no número inteiro. Nesse caso, ao partido A faltam 1000 votos para alcançar mais uma cadeira, enquanto faltam 1500 ao partido B. Seria natural que a cadeira adicional ficasse com o partido A, certo?

Errado. No Brasil, o método é o das "médias", que faz total sentido. Soma-se a cadeira adicional ao número de cadeiras já conquistadas pelo partido e divide-se pelo número de votos já conquistados - quem tiver maior média de "votos por cadeira", leva. Nesse exemplo, Partido A = 5000 / (1+1) = 2500; Partido B = 61500 / (20 + 1) = 2829; como a média do Partido B é maior, ele leva a cadeira adicional. Faz sentido porque, nesse caso, ambos partidos "ganhariam de lambuja" alguns votos; só que a proporção desses votos "doados" é muito menor ao partido B (2,4%) do que seria ao partido A (20%), distorcendo muito menos a vontade popular do que se fosse usado o sistema de maior sobra.

Nem sempre a melhor solução é a que primeiro salta aos olhos.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Paranóia de mercado

Outro dia ouvi no rádio uma propaganda que era algo assim "venha para o primeiro feirão de carros desse ano...de 2012!". Era o anúncio de uma feira de carros, em Maio de 2011, só com carrros de modelos do ano que vem. Pqp, estamos em Maio...lembro de alguns anos atrás, quando já era uma novidade você poder comprar em Dezembro os carros com modelo do novo ano. Parece que a competição de mercado foi antecipando isso de tal maneira que, daqui a pouco, estaremos comprando carro de modelos de 3 anos pra frente.

Isso me lembra uma situação que acontecia quando eu trabalhava em banco. No mercado de empréstimos para pessoas jurídicas, um momento importante é a tomada de empréstimo, pelas empresas, para pagar o décimo-terceiro salário. Quer dizer, a legislação trabalhista cria uma obrigação paras as empresas que não tem a menor correlação com a realidade econômica; quando chega o momento de pagar a primeira parcela, que geralmente é começo de Novembro, a maioria das empresas procura os bancos para tomar um empréstimo específico para isso. Os bancos movimentam-se, nessa época, para montar estruturas de divulgação, propaganda, movimentação de pessoal interno para ganhar a maior parte possível desse mercado. Há 10 anos, quando primeiro tomei contato com essa realidade, lembro dessa discussão dentro do banco começar no começo de Outubro, porque durante o mês de Outubro, Novembro e, às vezes, começo de Dezembro as empresas tomariam esse empréstimo. Por conta da disputa mercadológica entre os bancos, esse prazo foi diminuindo...lembro bem claramente que, um belo ano, estávamos em Maio e, numa reunião de equipe, o nosso chefe comentou 'e aí, o que vamos fazer pro décimo-terceiro esse ano?". A cara de todos, minha inclusive, foi de surpresa. Caraio, tamos em Maio! O nosso chefe falou "mas o Santander já está anunciando"...O que tinha acontecido é que, em uma reounião com o pessoal do comercial, o diretor comercial cobrou justamente isso: que o Santander já estava anunciando e o nosso banco não tinha nem começado a se coçar. Não importava que o momento da propaganda e da ação comercial estivesse totalmente descolado do momento em que, efetivamente, as empresas tomavam sua decisão nesse sentido.

Um tempo atrás lançaram aquele açúcar light. Parece que é uma mistura de açúcar com adoçante; não é nem açúcar, nem adoçante, é algo meio termo - tem cara de açúcar, gosto de algo mais ou menos e não é tão calórico. E tão anunciando como se fosse uma p* invenção. Isso me lembra algo, novamente, do mercado bancário: a primeira vez que lançaram o empréstimo que, se você pagar todas as parcelas no prazo, você não paga a última parcela. O mercado se alvoroçou; no banco que eu trabalhava, as pessoas eram cobradas "porque ainda não temos aquele produto maravilhoso que o banco x tem". Claro, qualquer ser pensante entende que o banco não é instituição de caridade e, se ele te oferece algo assim, alguma compensação tem. A lógica aqui é clara: a taxa de juros é mais alta o suficiente para compensar a eventual "perda" dessa última parcela. Há considerações de crédito que tornam o produto interessante, mas o importante é que o alvoroço era pelo suposto genial apelo comercial. O problema é que se um dia eu voltar a trabalhar em empresas, é uma coisa com a qual terei de me adaptar. Eu não vejo nada de errado em que o mercado funcione dessa maneira, e até entendo a lógica. Eu só não tenho saco; como diria Raul "macaco jornal tobogã eu acho tudo isso um saco". Se você pudesse ficar no seu cantinho e, quando ordenado, executar a maluquice qualquer da vez que os caras inventassem, beleza - mas não é assim que funciona. O cara que primeiro inventou e implantou esse produto de isenção da última parcela deve ter recebido um bônus animal e ficou bem visto; assim como o cara que inventou o açúcar light. Os outros eram os perdedores que não inventaram nada de interessante... Cria-se um ambiente de total loucura na busca dessas supostas vantagens, de estar na frente; se o diretor (ou apenas UM diretor, se esse diretor foi influente o suficiente para que ninguém se ache no direito de questioná-lo) pôs na cabeça que a oitava da maravilha será alcançar aquela vantagem específica, isso passa a ser mais urgente do que tirar o pai da forca. Claro, apenas até outro diretor por outra coisa na cabeça...

Do ponto de vista da macroeconomia, a teoria geral inicial do capitalismo era a máxima Smithiana de que se todos buscarem o melhor para o seu interesse próprio, a mão invisível do mercado encarregar-se-ia de garantir que isso implicasse no melhor para a sociedade como um todo. John Nash, com sua teoria dos jogos, provou que isso nem sempre é verdade: é bem possível agentes interagindo escolherem o que é mmelhor para si e o resultado geral ser longe do ideal para todos. O liberalismo clássico vem sendo modificado pelas claras evidências que alguma - nem tão pouca assim - regulação é necessária. Parece que dentro das empresas, e nas competições mercadológicas em geral, ainda estamos no principio antigo do capitalismo. Cada um buscando o melhor de si e, boa parte das vezes, não gerando a melhor situação possível para todos. E não falo de algo ideológico do "social" - falo para todos dentro da empresa ou do próprio mercado! - em termos de resultado, de eficiência, de alcançar melhores metas com menos esforços. É a paranóia...

sábado, 21 de maio de 2011

Realengo e desarmamento

Mais um da série "desenterrando posts não postados"; esse aí foi logo após aquela tragédia na escola carioca. Interessante que, pouco tempo depois, já estamos falando de outras coisas - o assunto já foi o casamento real, o casamento gay, o pallocci...

* * * * *


À época do plesbiscito sobre a proibição do uso de armas, votei a favor da proibição. Em muitos círculos sociais que frequentava, era voto vencido - a maioria esmagadora era contra. Hoje, dias após a tragédia do realengo, volta-se a falar com força sobre isso e, aparentemente, alguns setores que, antes, colocavam-se contra, põe-se agora a favor. O que eu penso? Bom, seria muito cômodo dizer algo como "pois é, era isso que eu pensava", mas como tudo no Brasil que gera um certo consenso costuma estar errado...No colégio, eu tinha um professor de história que fazia provas teste, apresentando duas sentenças, e as alternativas eram algum tipo de relação entre as frases, algo como "as duas afirmações estão corretas, mas a segunda não explica a primeira".

Então, nesse caso, acho que é isso: sou totalmente a favor do desarmamento, mas tomar isso como a grande solução para evitar esse tipo de caso que aconteceu no RJ é besteira. O furor com o que se discute, agora, esse assunto, só pode ser entendido como a necessidade de se ocupar de algo.

Por que sou a favor do desarmamento (do ponto de vista jurídico, ou seja, a proibição total do porte e uso de armas de fogo por civis)? Bom, são vários motivos. Na verdade, acho que a pergunta deve ser invertida: em uma democracia, o uso da força é exclusividade das forças de proteção do Estado. Existem motivos para permitir que civis portem armas? Acho que, de forma geral, esgotamos esse motivos. Por exemplo,o argumento do direito individual: uma irresponsabilidade de alguns não pode privar o direito de muitos. Mas direito vem unido com responsabilidade, com arcar com ônus e bônus. E quem arca com o ônus da arma? Não é o portador. Estatísticas mostram um alto percentual de acidentes com crianças (por pais que tem armas e não conseguiram esconder direito), de armas "legais" sendo roubadas e armando ainda mais a bandidagem etc. Uma outra estatística é a que mostra que a maioria dos homicídios é de proximidade: briga de trânsito, disputas familiares ou de vizinhos etc. Quem arca com esse custo social? Aí vem aquele argumento "ah, mas automóveis matam mais do que armas, vamos proibir também os automóveis?". Deveria ser óbvia a diferença, mas vá lá: o objetivo principal de um automóvel é locomoção - causar acidentes é um desvio. Qual é o objetivo principal de uma arma mesmo? Ai tem aquele outro arguemento, de que há áreas do país que o Estado não alcança e as pessoas precisam se proteger: quer dizer que, nessas áreas, o Estado não chega para trazer proteção, mas chegaria para punir alguém descumprindo a lei de desarmamento? Ora essa, se vamos ser ser coniventes com a própria falta de competência do Estado, não sejamos em termos de legislação - sejamos na prática, tendo leniência com a fiscalização e punição em especificidades regionais.

Isso tudo posto, continuo achando que uma coisa não tem muita relação com outra - um doente mental, com um plano trágico como esse maluco do RJ tinha, vai dar um jeito de arrumar uma arma. Alguém que "desistisse" do seu plano por uma dificuldade adicional de achar uma arma não estaria, nem de perto, no nível de desequilíbrio para tomar uma atitude dessas. Tampouco parece-me razoável discutir "segurança" nas escolas - primeiro porque não conseguimos nem bons professores de português e matemática, vamos conseguir um nível satisfatório de segurança? E depois, se as escolas estiverem bem protegidas, qual será o próximo passo? Hospitais, shoppings, igrejas? Alguém com esse intuito pode achar o lugar que bem entender para promover o terror - vide o caso do cinema em sp ou do maluco que bateu com o taco de baseball na cabeça do outro numa livraria. O desarmamento, além de conceitual - estabelecer na constituição que, não, o cidadão comum não tem direito a fazer uso desse tipo de força para "se defender" - tenderia a diminuir essa morte por proximidade. Em alguns momentos, a ocasião faz o ladrão - a briga, a discussão, a rixa, poderiam acabar de maneira menos trágica se o cabra não tivesse uma arma em casa; não fosse assim, não teríamos especificação, na legislação, de homicídio premeditado. Mas o mundo moderno, infelizmente, terá de conviver, de tempos em tempos, com eventos como esse do RJ.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Top Chef

Aproveitando a fase de baixa produção bloguística, vou entrar no embalo do texto da Deise sobre o Seriado Top Chef e postar um texto que eu tinha escrito sobre um episódio desde mesmo seriado, mas nunca tinha postado.

* * *

Já escrevi textos aqui inspirados em algum episódio dos seriados que costumo assistir. Dessa vez, o seriado é Top Chef, uma espécie de reality show com chefs de cozinha. Gosto do seriado porque alia coisas de legal de cozinha - os desafios são sempre preparar algum tipo de prato, um menu, uma sobremesa - com os conflitos entre as pessoas característicos de um reality. Pena que não assisto mais porque, além de nem saber o dia e horário que passa, não consegui achar para baixar na internet. Esse episódio que inspirou o texto eu peguei de orelhada - não estava acompanhando a temporada episódio a episódio.

Enfim, ao episódio: é uma etapa das mais conhecidas para quem acompanha o programa, chamada de "restaurant war" - os chefs são divididos em quatro grupos, e cada grupo tem 1 dia para montar um restaurante com menu próprio. Eles tem de pensar num menu simplificado (duas entradas, dois pratos principais etc), uma hora para comprar os ingredientes, três horas para pré-preparar os pratos quando, no final, um grupo de pessoas e os jurados comerão nos 2 restaurantes e farão julgamentos. Como disse, não estava acompanhando a temporada, então minhas impressões são apenas desse episódio. Um dos grupos parecia mais unido, e já tinha ganhado o desafio anterior; as decisões eram tomadas em comum acordo dos participantes, de maneira mais harmoniosa - tudo parecia fluir mais tranquilamente. Já o segundo grupo parecia mais segregado, mas tinha um chef que (pelo que entendi, os jurados consideravam esse jurado um dos melhores participantes) meio que mandava no grupo: discutia todas as sugestões, barrava as que não pareciam fazer muito sentido, tentava coordenar o grupo - claro, à custa da cara feia dos outros chefs e, durante as etapas da competição, até algumas rusgas.
Bom, acontece que o segundo grupo, do chef brigão, ganhou o desafio. Ganhou não, deu um baile, a ponto dos jurados comentarem que o desempenho deles tinha sido o melhor das seis temporadas do programa, enquanto o outro grupo foi criticado em quase todas as decisões - menu, execução de prato, atendimento no salão etc.
A tarefa que os participantes tinham que desempenhar era de extrema pressão, e exigia, entre outras coisas, capacidade de decisões acertadas em curtíssimo prazo (coisa que, parece-me, é bem característica da atividade de Chef). Capacidade de raciocínio rápido, bom senso e eficiência não são habilidades comuns na maioria das pessoas - é para isso que existem líderes, alguém que (supostamente) tenha a capacidade de direcionar o grupo para ações de maior eficiência. Guardadas as devidas proporções, há certas situações que o "bom mocismo", a gentileza, a preocupação excessiva com o sentimento dos outros não se coadunam com o bom resultado prático: o grande cirurgião na emergência não vai pedir ao médico iniciante "por gentileza, você pode fazer esse corte aqui, porque sabe, aqui passa a artéria xpto..."; grandes generais da história, que ganharam grandes batalhas, não deviam discutir minuciosamente seus planos de guerra com muitos subordinados; técnicos de sucesso, como Telê, Felipão, Luxa, Muricy, Mourinho, não são amiguinhos dos jogadores nem pedem "por favor, v. sa. deve acompanhar o volante do outro time até o final, viu...".
Não se trata de pregar a falta de tato com as pessoas, é apenas que, às vezes, não dá para se preocupar tanto com isso. No caso dos chefs, o cara pode ter ferido sentimentos, mas levou o grupo a uma grande vitória e todos se safaram da eliminação. Em empresas, isso acontece também: é comum os "chefes" terem como característica algo que flutue entre "o chefe gente boa mas que não te consegue um aumento", justamente porque os resultados são fracos, e o "chefe meio casca grossa mas que consegue tudo que quer", porque ele dá muito resultado e, consequentemente, tem moral com o povo de cima. Claro, existem pessoas - e eu mesmo já tive chefes assim - que aliam um pouco das duas características, mas é incomum.
Cafuné não enche barriga, e afinal para isso que a gente tem mãe, esposa, namorada...no trabalho, as vezes é mais importante produtividade, eficiência, nem que isso custe um pouco de delicadeza. Não sei se isso é característico do brasileiro, mas sinto que a gente tem a tendência de hipervalorizar o "bonzinho" inepto que, no final das contas, produz muito pouco.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Satisfação

só dando uma satisfação aos eventais gatos-pingados leitores do blog ehehe: esses dias decidi me dedicar a um novo projeto que tem tomado bastante tempo; imagino que daqui a algum tempo eu me adapte melhor às novas atividades e volte a postar aqui de vez em quando!

sábado, 16 de abril de 2011

As 7 melhores séries de TV da História

Há uma frase muito refinada e de sabedoria profunda que diz: "opinião é que nem bunda: todo mundo tem a sua"...pois é, a lista reflete apenas a minha opinião das séries que já assisti. Ainda sim faz-se necessário alguns esclarecimentos. Por ex, não me lembro de ter visto uma febre tão estrondosa quanto Lost - na época, conheci muita gente literalmente viciada. Mas eu nunca vi um episódio de Lost, então não dá para estar na lista, assim como a maioria das séries que existe, porque não as vi. Em quase toda lista de melhores seriados que já se fez em revistas ou jornais americanos, Simpsons sempre aparece em primeiro ou, pelo menos, nos primeiros lugares - do ponto de vista de conteúdo, também apareceria na minha, mas é mais um desenho do que um seriado. Não teve o desafio de escolher atores e estar exposta à atuação (brilhante ou medíocre) que esses atores teriam por cada papel - então também excluí da lista. Um exemplo característico dos critérios da lista é a série "two and a half men" - dificilmente consigo achar um episódio desse seriado ruim. Mas é uma série mais recente, os temas, embora sempre bem explorados, são meio repetitivos - dei importância a uma certa universalidade. Bom, chega de enrolation, em cada seriado eu também tento me lembrar de algum episódio que me marcou muito.

7 - Seinfield
Quem nunca viu esse seriado, se pegar aleatoriamente um episódio para assistir provavelmente achará um tanto sem graça - mudou muito a dinâmica desse tipo de seriado. Mas além de Jerry Seinfield ter sido o precursor de um determinado tipo de humor na televisão americana, conseguiu fazê-lo com muita simplicidade, com temas do cotidiano, com a dinâmica dos personagens que, afinal, eram pessoas muito parecidas com qualquer um que a gente conheça. Quando se conhece um pouco dos personagens, qualquer episódio de Seinfield torna-se engraçadíssimo...lembro-me de um em que o personagem George Constanza está tendo problemas para sair com mulheres, e aí o pessoal acaba tentando ajudá-lo, dando confiança para falar com mulheres nos lugares - é bem engraçado!

6- House
O que começou como um trama apenas em volta de um médico prepotente amalucado conseguiu-se firmar como um seriado de altíssima qualidade, em vários aspectos. Claro, o personagem de Hugh Laurie - e a sua atuação - é 60% da coisa, mas não é só isso; há as discussões médicas, que para quem gosta - e para leigos como eu - parecem bem embasadas; há toda uma discussão, por conta da história dos pacientes ou dos próprios médicos que compõe a equipe de House a cada momento, sobre as verdadeiras razões do comportamento humano. E House pode ser um verdadeiro soco no estômago com suas opiniões e posicionamentos - egoístas, arrogantes, mas nem por isso menos verdadeiros...vários episódios são fantásticos, mas ressalto 2: o episódio onde descobrimos daonde vem o problema da perna dele, e o episódio onde um paciente entra na sala de diagnósticos e dá um tiro no House (claro, ele não morre...).

5- Boston Legal
No Brasil não é dos seriados mais conhecidos - eu mesmo conheci recentemente por indicação de uma pessoa próxima. Mas logo que conheci devorei as 3 primeiras temporadas rapidamente. É o dia a dia de um escritório de advogados em - óbvio - Boston; os julgamentos e as questões jurídicas são pano de fundo para discussão de grandes problemas americanos - as guerras, republicanos x democratas, direitos de expressão, tolerância religiosa etc - e os dramas pessoais dos personagens. Tudo permeado com humor - que as vezes chega a ser pastelão, mas uma vez que você se habitua, passa a ser bem engraçado. Os episódios de final de temporada costumam ser em outras cidades, e são sempre muito bons; fora disso, tem um que Alan Shore e Denny Crane vão pescar que é simplesmente hilário!

4 - Married with Children
Bom, quem não conhece Al Bundy está perdendo a sabedoria de uns dos grandes sábios desse mundo eheheh...para os mais modernos, é o mesmo ator de Modern Family, casado com a cubana. Certamente esse tipo de humor e sátira ao american way of life inspirou depois os Simpsons - produzido pela mesma Fox; essa série de tv talvez tenha sido a primeira a adotar esse tipo de humor ácido e crítico a sociedade americana. Isso tudo a parte, o seriado é muito engraçado! Os atores caíram muito bem nos seus personagens, desde os fillhos do casal Kelly e Bud e até os vizinhos! Bom, faz quase 25 anos que a série foi lançada, então todo o cenário, as imagens, as roupas, está tudo muito diferente de hoje; ainda sim vale muito a pena. São muitos episódios muito bons e não lembro de quase nenhum inteiro, mas aquele que o Bud tem um clube de amigos que são apertadores de seios é de rolar no chão de tanto rir (para homens em especial, mulheres certamente acharão uma bobajada sem fim!)

3- 24 horas
Ok, Jack Bauer é uma mistura de Mcgyver com Capitão Nascimento, e o tema, no final das contas, é aquele ideal republicano - uma guerra americana contra o terrorismo que se utiliza de métodos nada ortodoxos (o fato do seriado ser produzido pela Fox já é algum indicativo...). Mas ainda sim, é do car*!! A proposta totalmente inovadora de fazer um seriado em "tempo real" (cada episódio da temporada de 24 episódios é uma hora em um dia) dá muito certo e não enjôa; também houve inovações nas câmeras, nos enquadramentos (como naquelas montagens onde você vê quatro cenas ao mesmo tempo). Poderia ficar repetitivo e sem graça, mas não fica - os temas se renovam, e quase nunca as coisas dão certo - as pessoas morrem, os terorristas tem sucesso em algumas ações, os bonzinhos nem sempre são bonzinhos e assim por diante - de modo que você não sabe o que esperar, mesmo. Não se discute nada, é a ação pela ação - ainda sim, é muito bom. É difícil apontar um episódio porque cada um é diretamente conectado a história na qual está encaixado, mas o último episódio da primeira temporada é marcante - talvez porque lá você tome a primeira grande porrada e pense "bom, então esse seriado é assim mesmo?" eheheh

2 - Anos incríveis
Esse, então, é indiscritível de bom, para quem gosta de drama. Os caras conseguiram, com uma sensibilidade sem fim, transformar a supostamente ingênua vida de um pré-adolescente no cenário ideal para discussão dos maiores dramas da nossa vida: relacioamento amoroso, familiar, com amigos, medo de rejeição, desejo de agradar etc etc etc. Sem apelar, com recursos simples, ótimas atuações, questões muito complexas são tratadas de forma magistral. É um p* seriado, daqueles que dificilmente consegue se repetir. O episódio que o Kevin vai no escritório do pai deve fazer muito adulto pensar muito - embora eu tenha assistido enquanto ainda estava no colégio...

1- Friends
Não dava para não ser o primeiro da lista..Podia perder para algum outro em algum aspecto específico, mas na soma ganhava de longe! São 10 temporadas de um seriado muito bom, em alto nível (embora as últimas temporadas já estivessem um pouco sem graça), com ótimos roteiros, ótimos personagens, atores que se encaixaram perfeitamente nos seus papéis. É de longe a série que mais assisti - há episódios que sei as falas de cor. E marcou uma época também, uma geração, um certo estilo de ser - embora fosse uma série de comédia, os conflitos que eles viviam podiam ser vividos por qualquer um. Quem não conhece, alugue ou baixe a primeira temporada, mas já aviso - arrume tempo para assistir, aos poucos, todas as outras, pois você vai viciar. Difícil escolher episódios, mas lembro de ter caído no chão de rir da primeira vez que assisti o episódio onde o Joey assume a culpa por uma série de coisas que acontecem para ninguém saber que a Monica e o Chandler estão dormindo juntos.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

De quem é o dinheiro público?

Tem uma frase, que já ouvi há muito tempo e mais de uma vez, que diz mais ou menos assim: "Nos países desenvolvidos, o que é público é de todo mundo; nos subdesenvolvidos, o que é público não é de ninguém". Isso se traduz em uma atitude com as coisas públicas: se é de todo mundo, também é meu, então eu cuido, vigio, uso com responsabilidade, assim como faço com todas as outras coisas que são minhas; se não é de ninguém, eu não estou nem aí, e se for usar, uso sem cuidado, sem preocupação, como um saqueamento em uma região abandonada ou num caminhão caído à beira da estrada...

Em que tipo de pensamento geral em relação à coisa pública nos encaixamos no Brasil é desnecessário dizer. Mas isso tem uma repercussão ainda mais trágica quando se trata do dinheiro público. Acho que há uma sensação geral de que aquele dinheiro não é de ninguém, ou é do Estado, governo, como se essas instituições fossem algo que existissem por si mesmas. Por ex, quando nos indignamos com o salário dos deputados, minha sensação é de que existe mais um pensamento na linha de "p*, o cara ganha tudo isso enquanto eu ganho muito menos?" do que algo do tipo "p*, esse dinheiro tá saindo do meu bolso!!".

E uma coisa que, se não é causa, ajuda a manter esse comportamento, é a falta de percepção clara do quanto o imposto pago é dinheiro a menos na sua vida, dinheiro retirado pelo governo do seu bolso que poderia estar sendo usado por você para uma condição melhor de vida. Há pequenas situações onde essa indignação aparece: quem tem carro e paga ipva costuma ficar p* de pagar esse imposto e ver que pouca coisa é feita para melhoria das vias públicas; quem tem apto e paga iptu também sente coisa parecida. Mas é um sentimento nem tão intenso e que atinge apenas uma parcela da população. Uma coisa que poderia ser mais forte para estimular essa sensação é o imposto de renda. Mas pensa só: a população economica ativa brasileira é de 50%. Desse universo, há 10% de desemprego e apenas 50% dos empregados tem emprego formal - que pagam imposto. Dos que ganham salário formal, apenas os que ganhem, digamos, acima de 3 mil, sente efetivamente um volume de dinheiro sendo retirado de si (a isenção do IR vai até 1,5 mil, e alguém que ganha 2,5 mil, por ex, paga menos de 4% de IR sobre a sua renda, pouco para sentir alguma diferença...) - se considerarmos as diversas regiões do Brasil, e vários setores de trabalho, como chão de fábrica, serviço, saúdes, é até conservador estabelecermos que só 50% ganham acima de 3 mil (meu palpite é que é bem menos de 50%). Tudo calculado, pouco mais de 10% da população brasileira conseguem sentir diretamente o efeito do imposto de renda sendo subtraído mensalmente das suas receitas! O maior efeito do imposto na nossas vidas é o preço dos vários itens que consumimos que estão sempre majorados pela carga de impostos que foram incidindo ao longo da cadeia produtiva.

Uma coisa que poderia ajudar é se tívessemos alguma metodologia semelhante aos Estados Unidos: a cada coisa que você compra, você sabe claramente o quanto é o valor do produto e o quanto é o imposto. Em média, pagamos 40% de imposto; imagine que na sua passagem de ônibus, você estivesse sendo sempre lembrado de que dos 3 reais, 1,20 é imposto? Do pf de 8 reais na padoca, 3,20 é imposto? Do aluguel de 1000 reais, 400 reais é imposto? (no caso do aluguel, o imposto não é direto porque provavelmente o valor é cobrado por um particular; mas se entendermos que o custo total da economia está majorado em 40% por causa dos impostos, é de se imaginar que o dono do imóvel poderia cobrar 40% a menos). Acho que a lembrança diária de quanto dinheiro poderia sobrar para você caso os impostos fossem menores seria muito benéfica para que todos sentissem, quando o noticiário da tv anunciasse "deflagrada operação da PF contra corruptos que desviaram x milhões" todo mundo se indignasse e pensasse "FDPs!! tudo na minha vida é bem mais caro para esse bando de fdp me roubar desse jeito???"

O Brasil é um dos países do mundo com a relação custo x benefício para o contribuinte mais injusta. A Suécia tem o nível de tributação parecido com o nosso, mas o sistema educacional, de saúde e de suporte social é infinitamente melhor. A China tem sistemas de educação e saúde públicos piores do que os nossos, em geral, mas pelo menos o cidadão paga menos de 20% de imposto. O Brasil consegue aliar a alta carga tributária Sueca a um padrão chinês de baixa qualidade de serviços. E a gente tá cag* e andando para isso...toda vez que escuto coisas do tipo "governo pensa em criar estatal para cuidar do trem bala" eu só consigo pensar que devemos estar muito anestesiados, pois a indignação geral é um décimo do que deveria ser.