sexta-feira, 6 de julho de 2012

Resultados

(A última motivação para esse texto foi futebol, o que me levou a ficar na dúvida em qual blog postar. Na dúvida, postarei nos dois).




Diz um ditado educadinho que "opinião é que nem bunda - cada um tem a sua". Sobre qualquer assunto, qualquer um pode falar o que quiser - a batatada que for. Faz parte. O problema é determinar quem tem razão.



No excelente livro "O que devo fazer da minha vida?", uma das historias que o autor Po Bronson conta é sobre um roteirista de Hollywood. Em um momento, para contextualizar a situação que está descrevendo, ele explica uma certa lógica do funcionamento das coisas por lá. Os elogios são tão fartos e fáceis que a melhor maneira de se determinar o quanto cada um é realmente bom (ou quanto vale) é pelo simples preço que é oferecido para se contratar esse alguém (roteirista, ator, diretor...). Ou seja, quem está lá há tempo suficiente já aprendeu que um comentário "nossa, você estava tão bem naquele filme!" vale muito menos do que um "te ofereço xyz milhões para fazer meu próximo filme"...



Recentemente, decidi prestar um concurso público e, para tanto, tive que entrar de cabeça nesse mundo paralelo que é o mundo dos concursos; aprender a estudar, saber como e por onde aprender as disciplinas etc etc etc. Ajudou-me muito as dicas de pessoas mais experientes e de especialistas no assunto. O problema é que tem muita informação e muita gente dizendo coisa muita diferente. Só que tem um cara que fala X e já foi aprovado em 4 concursos concorridos (todos nas primeiras posições) e outro que fala Y e tá há 3 anos estudando para passar....qual dos dois você vai ouvir?



Não conheço outro assunto com mais espaço para divergências e opiniões diferentes do que futebol (aí falando mais do plano tático, de como jogar, do que fazer, e não da paixão em si - essa sim incontornável). O técnico arma o time de um jeito e um lado da torcida pensa "que imbecil!"; se ele mudar, é o outro lado que vai pensar a mesma coisa. Nâo tem jeito. Qual o melhor jeito de estabelecer, no fim, quem estava certo? Alguém ganhou, alguém foi campeão - esse é o jeito menos enviesado de saber quem tinha razão. Há sorte, há fatores circunstanciais, mas no conjunto da obra, o resultado é muito menos subjetivo do que um simples "ah, eu acho que...".



Resultados as vezes apagam erros, sobrevalorizam esforços em certas direções. Nâo tem jeito. Mas não arrumaram ainda jeito mais objetivo de medir quem estava certo no que estava fazendo. Se a sua opinião é que há um outro jeito melhor de fazer, em algum momento esse jeito de fazer vai mostrar resultados. Se não mostrar, então por mais que você invente teorias mil para explicar, você está errado.

terça-feira, 26 de junho de 2012

A bendita sacolinha

Parece uma questão interminável...
Para mim sempre pareceu natural que a medida de não distribuir "de grátis" as benditas fosse tomada em algum momento. Talvez porque nas minhas pouquíssimas viagens internacionais, em todo país já fosse assim. Você quer sacola, você compra. Se não leva na sua bolsa, leva uma mochila de casa, enfim, se vira.

Mas ultimamente eu não tenho sido muito de aceitar as coisas como naturais e tenho tido uma curiosidade de ouvir opiniões diversas. Quando pela primeira vez ouvi alguém perguntar "e como é que faz com o lixinho do banheiro e da cozinha? e para catar o cocô do cachorro?", pensei que eram argumentos interessantes. Do outro lado, não ouvi respostas muito convicentes. E agora, José?

O argumento de defesa do consumidor contra um ganho de lucratividade dos supermercados me parece um falso argumento. É uma visão de curto prazo. Isso é, estão dizendo que os supermercados vão lucrar mais porque agora não tem de dar a sacolinha, e estão vendendo a retornável. O contrargumento é que, no longo prazo, pelo setor varejista ser muito concorrido, em especial em preços, alguém irá jogar essa margem para os preços e todo mundo terá de seguir para competir. Faz sentido. O que não faz sentido é, se a sacolinha for mesmo a praga que é, não achar outra solução pelo "direito do consumidor".

Outro dia o onipresente presidente do Instituto Akatu, que dá umas vinte entrevistas por dia, tava falando sobre os lixinhos. A idéia dele é fazer aqueles "sacos" de papel reciclável ou, como os lixinhos são de plástico duro, deixar de usar os saquinhos e lavar os lixinhos de tanto em tanto tempo. Não pude controlar o pensamento "esse cara tem uma empregada que vai fazer isso para ele...".

Tudo considerado, acho que passa por um princípio básico de finanças públicas: externalidades. Se alguma atividade econômica traz externalidades negativas, isso é, traz más consequências que não são arcadas pelos participantes do negócio (e sim pela sociedade como um todo), essa atividade deve ser desestimulada. O que dizer de incentivada! Dar sacolinhas plásticas é incentivar uma atividade que traz fortes externalidades negativas. Não faz sentido. Se a gente quer usar a sacolinha no lixinho ou para catar o cocô do cachorro, beleza; mas que paguemos por isso. Receber de graça significa não controlar, usar mais do que o necessário, por 2 ou 3 sacolinhas para não vazar, jogar fora porque uma alça quebrou e coisa do tipo. Pagando, se controla mais e, se for o caso, buscar outras soluções. Mas buscar porque se escolheu assim. Eu não baniria as sacolinhas; só colocaria um preço não irrisório para quem quiser comprá-las.


Não ter a sacolinha nem para vender é um problema. Muitas vezes estou no meio do caminho e só preciso comprar uns 2 ou 3 itens. Mas não levei a sacola retornável e não vou comprar outra só para 3 ou 4 itens. Nem vou carregar na mão. Aí não passo; eu fico sem, o supermercado não vende.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Como funciona

Eu tinha uns 20 anos, estava no quarto ano de faculdade e tinha um ano e pouco de estágio. A empresa fazia contratos de estágio de 1 ano. Ao final do contrato, havia uma discussão de como o estágio tinha andado e do que fazer pro futuro. No meu caso, recebi um bom feedback, mas como não havia vagas na minha área, meu contrato de estágio foi prorrogado por mais um ano. Nesse momento eu fiz questão de pontuar que meu objetivo era ser efetivado e, a partir de então, passei a cobrar meus superiores com uma frequência de, digamos, 2 em 2 meses, sobre em que pé estava a coisa. E a conversa ia sempre na linha de "olha, você tá indo muito bem, mas sabe como é, ainda não tem vaga, tenha um pouco de paciência...".




Quem já passou por isso sabe como é. Em poucos meses de estágio você está fazendo trabalho de analista, só que ganhando um terço (entre salário e benefícios) do que deveria ganhar. Aos poucos sua paciência vai se esgotando...



Um belo dia eu descobri que havia uma regra de aumento para estagiários. Era coisa pequena, tipo 10%, e só era dado para um %, os considerados "melhores". Pedi para o meu chefe e ele ficou de averiguar. Alguns dias depois ele me chamou, e falou que não ia rolar, por conta de uma burocracia etc e tals, mas de novo falou para ter paciência, que agora estava perto de acontecer o que eu queria (efetivação). Com alguma educação, expressei o meu descontentamento, e o desafiei dizendo "pô, como eu posso acreditar nisso, se nem um simples aumento de 10% vocês conseguem?". Ele, com paciência, deu um sorriso de canto de boca e falou "as coisas não funcionam assim". Uns 2 meses depois houve uma reestruturação na área, abriram vagas e eu fui efetivado. Meus rendimentos totais quase triplicaram.



Esse poderia ser um texto sobre "cobrar", brigar pelo que vc quer, mas não é. Só alguns anos depois, quando me lembrei disso, consegui imaginar o que meu chefe, naquela conversa, pensou ao dar aquele sorrisinho. Com alguns anos de experiência do mundo do corporativo, tive mais clareza do que ele quis dizer com "as coisas não funcionam assim". Efetivar alguém depende de você ter vaga; as vezes pessoas muito competentes acabam não sendo aproveitadas enquanto outras, com menos tempo e dedicação, acabam sendo efetivadas pelo simples fato de que em uma área não havia vaga e na outra, sim. É claro que um desempenho bom sempre ajuda; se o chefe tem um estagiário muito bom na área, ele fará todos os esforços possíveis para arrumar uma vaga. No caso em voga, esse "aumento" de 10% seguia uma burocracia gigante. Era controlado pelo RH, que fazia um ranking dos estagiários, e os parâmetros para estabelecer quem seriam os primeiros eram bastante confusos; cada chefe tinha que ir lá brigar e, como quase tudo em empresa, o fator político contava bastante. Enquanto que efetivar alguém, tendo vaga, era tarefa muito mais fácil: é só o chefe da área dizer "nessa vaga vai fulano" e, pronto, está feita a festa.



Agora o sorrisinho: imagino que o que ele tenha pensado é o que costumo pensar, em algumas situações, escutando uma certa formulação lógica. A pessoa faz uma asserção que, pela sua lógica interna, é incontestável. Fazia todo sentido para mim imaginar que um aumento de 10% fosse mais fácil conseguir do que uma efetivação e, portanto, se não consegue-se o mais fácil, o que dizer do mais difícil...O problema aqui, no entanto, é a premissa. E era uma premissa errada, de quem não conhecia o sistema, simplesmente por falta de experiência, por não ter vivido, por não conhecer de perto. E ele nem tentou me explicar isso, justamente porque, nessas horas, não adianta explicar. Tem de conhecer para saber como funciona e, certas coisas, só vivendo para saber.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

bom senso ou lógica?

Muitas vezes, o que é considerado "bom senso" vai sensivelmente contra ao que levaria uma análise lógica, mais racional. Exemplos disso são muito comuns, mas por conta de assuntos que precisei aprender recentemente, dois casos específicos me ocorreram.

1- Imagine uma eleição para governador de Estado. Os candidatos são João, José e Joaquim. O total de votos válidos nesse Estado para essa eleição foi de 100 mil votos, tendo João ganho a eleição, no segundo turno, contra José. Algum tempo depois, o TSE descobriu irregularidades na candidatura de João, impugnando o seu mandato. Qual a solução? Toma posse José, o segundo colocado na disputa eleitoral. Nada mais correto, correto?

Errado. E não, necessariamente, do ponto de vista jurídico, mas do ponto de vista lógico.

Ora, a maioria da população escolheu um candidato (João). Depois, apurou-se que o processo não foi válido, por conta de irregularidades, portanto esses votos não poderiam ser computados. Atribuir o resultado da eleição sem considerar os votos de quem votou em João (a maioria) é tomar uma decisão alijando a maioria da população do processo! Nada implica em que, estando João fora do páreo, José (e não Joaquim, o terceiro colocado), fosse eleito. Para deixar o argumento mais claro, vamos exagerar o exemplo. Imagine que João houvesse sido eleito com 80 mil votos, ficando, respectivamente, em segundo e terceiro lugares, José, com 12 mil votos, e Joaquim, com 8 mil. Ora, excluídos os 80 mil votos de João do processo, a diferença de 4 mil de José para Joaquim é insignificativa perto dos 80 mil votos que foram impedidos de manifestar sua decisão.

Recentemente, o STE decidiu pela eleição do segundo colocado em eleições onde o vencedor foi impugnado. Deveriam ter sido convocadas novas eleições, obviamente sem a presença do candidato impugnado.

2- Nas eleições para deputado funciona o tal do sistema proporcional. Divide-se o total de votos válidos (excluindo-se os nulos e brancos) pelo número de cadeiras a ser preenchidas para achar o Quociente eleitoral, e o número de cadeiras que cada partido vai ocupar é quantas vezes o número de votos desse partido alcançou esse Quociente. Vejamos um exemplo: imagine que, em um estado, há 30 cadeiras a ser preenchidas e 90 mil votos válidos; o Quosciente eleitoral será, então, de 3 mil votos. Imagine que partido A e partido B consigam, respectivamente, 5 mil e 61.500 votos; em uma divisão que desconsidera o "resto", o partido A ocupa uma vaga só e o B ocupa 20. Mas o que se faz com o resto da divisão? Excluindo-se o resto sobram cadeiras a ser ocupadas, - como computar quem fica com as sobras? A solução que melhor se apresenta é um "arredondamento", privilegiando a quem falta menos para chegar no número inteiro. Nesse caso, ao partido A faltam 1000 votos para alcançar mais uma cadeira, enquanto faltam 1500 ao partido B. Seria natural que a cadeira adicional ficasse com o partido A, certo?

Errado. No Brasil, o método é o das "médias", que faz total sentido. Soma-se a cadeira adicional ao número de cadeiras já conquistadas pelo partido e divide-se pelo número de votos já conquistados - quem tiver maior média de "votos por cadeira", leva. Nesse exemplo, Partido A = 5000 / (1+1) = 2500; Partido B = 61500 / (20 + 1) = 2829; como a média do Partido B é maior, ele leva a cadeira adicional. Faz sentido porque, nesse caso, ambos partidos "ganhariam de lambuja" alguns votos; só que a proporção desses votos "doados" é muito menor ao partido B (2,4%) do que seria ao partido A (20%), distorcendo muito menos a vontade popular do que se fosse usado o sistema de maior sobra.

Nem sempre a melhor solução é a que primeiro salta aos olhos.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Paranóia de mercado

Outro dia ouvi no rádio uma propaganda que era algo assim "venha para o primeiro feirão de carros desse ano...de 2012!". Era o anúncio de uma feira de carros, em Maio de 2011, só com carrros de modelos do ano que vem. Pqp, estamos em Maio...lembro de alguns anos atrás, quando já era uma novidade você poder comprar em Dezembro os carros com modelo do novo ano. Parece que a competição de mercado foi antecipando isso de tal maneira que, daqui a pouco, estaremos comprando carro de modelos de 3 anos pra frente.

Isso me lembra uma situação que acontecia quando eu trabalhava em banco. No mercado de empréstimos para pessoas jurídicas, um momento importante é a tomada de empréstimo, pelas empresas, para pagar o décimo-terceiro salário. Quer dizer, a legislação trabalhista cria uma obrigação paras as empresas que não tem a menor correlação com a realidade econômica; quando chega o momento de pagar a primeira parcela, que geralmente é começo de Novembro, a maioria das empresas procura os bancos para tomar um empréstimo específico para isso. Os bancos movimentam-se, nessa época, para montar estruturas de divulgação, propaganda, movimentação de pessoal interno para ganhar a maior parte possível desse mercado. Há 10 anos, quando primeiro tomei contato com essa realidade, lembro dessa discussão dentro do banco começar no começo de Outubro, porque durante o mês de Outubro, Novembro e, às vezes, começo de Dezembro as empresas tomariam esse empréstimo. Por conta da disputa mercadológica entre os bancos, esse prazo foi diminuindo...lembro bem claramente que, um belo ano, estávamos em Maio e, numa reunião de equipe, o nosso chefe comentou 'e aí, o que vamos fazer pro décimo-terceiro esse ano?". A cara de todos, minha inclusive, foi de surpresa. Caraio, tamos em Maio! O nosso chefe falou "mas o Santander já está anunciando"...O que tinha acontecido é que, em uma reounião com o pessoal do comercial, o diretor comercial cobrou justamente isso: que o Santander já estava anunciando e o nosso banco não tinha nem começado a se coçar. Não importava que o momento da propaganda e da ação comercial estivesse totalmente descolado do momento em que, efetivamente, as empresas tomavam sua decisão nesse sentido.

Um tempo atrás lançaram aquele açúcar light. Parece que é uma mistura de açúcar com adoçante; não é nem açúcar, nem adoçante, é algo meio termo - tem cara de açúcar, gosto de algo mais ou menos e não é tão calórico. E tão anunciando como se fosse uma p* invenção. Isso me lembra algo, novamente, do mercado bancário: a primeira vez que lançaram o empréstimo que, se você pagar todas as parcelas no prazo, você não paga a última parcela. O mercado se alvoroçou; no banco que eu trabalhava, as pessoas eram cobradas "porque ainda não temos aquele produto maravilhoso que o banco x tem". Claro, qualquer ser pensante entende que o banco não é instituição de caridade e, se ele te oferece algo assim, alguma compensação tem. A lógica aqui é clara: a taxa de juros é mais alta o suficiente para compensar a eventual "perda" dessa última parcela. Há considerações de crédito que tornam o produto interessante, mas o importante é que o alvoroço era pelo suposto genial apelo comercial. O problema é que se um dia eu voltar a trabalhar em empresas, é uma coisa com a qual terei de me adaptar. Eu não vejo nada de errado em que o mercado funcione dessa maneira, e até entendo a lógica. Eu só não tenho saco; como diria Raul "macaco jornal tobogã eu acho tudo isso um saco". Se você pudesse ficar no seu cantinho e, quando ordenado, executar a maluquice qualquer da vez que os caras inventassem, beleza - mas não é assim que funciona. O cara que primeiro inventou e implantou esse produto de isenção da última parcela deve ter recebido um bônus animal e ficou bem visto; assim como o cara que inventou o açúcar light. Os outros eram os perdedores que não inventaram nada de interessante... Cria-se um ambiente de total loucura na busca dessas supostas vantagens, de estar na frente; se o diretor (ou apenas UM diretor, se esse diretor foi influente o suficiente para que ninguém se ache no direito de questioná-lo) pôs na cabeça que a oitava da maravilha será alcançar aquela vantagem específica, isso passa a ser mais urgente do que tirar o pai da forca. Claro, apenas até outro diretor por outra coisa na cabeça...

Do ponto de vista da macroeconomia, a teoria geral inicial do capitalismo era a máxima Smithiana de que se todos buscarem o melhor para o seu interesse próprio, a mão invisível do mercado encarregar-se-ia de garantir que isso implicasse no melhor para a sociedade como um todo. John Nash, com sua teoria dos jogos, provou que isso nem sempre é verdade: é bem possível agentes interagindo escolherem o que é mmelhor para si e o resultado geral ser longe do ideal para todos. O liberalismo clássico vem sendo modificado pelas claras evidências que alguma - nem tão pouca assim - regulação é necessária. Parece que dentro das empresas, e nas competições mercadológicas em geral, ainda estamos no principio antigo do capitalismo. Cada um buscando o melhor de si e, boa parte das vezes, não gerando a melhor situação possível para todos. E não falo de algo ideológico do "social" - falo para todos dentro da empresa ou do próprio mercado! - em termos de resultado, de eficiência, de alcançar melhores metas com menos esforços. É a paranóia...

sábado, 21 de maio de 2011

Realengo e desarmamento

Mais um da série "desenterrando posts não postados"; esse aí foi logo após aquela tragédia na escola carioca. Interessante que, pouco tempo depois, já estamos falando de outras coisas - o assunto já foi o casamento real, o casamento gay, o pallocci...

* * * * *


À época do plesbiscito sobre a proibição do uso de armas, votei a favor da proibição. Em muitos círculos sociais que frequentava, era voto vencido - a maioria esmagadora era contra. Hoje, dias após a tragédia do realengo, volta-se a falar com força sobre isso e, aparentemente, alguns setores que, antes, colocavam-se contra, põe-se agora a favor. O que eu penso? Bom, seria muito cômodo dizer algo como "pois é, era isso que eu pensava", mas como tudo no Brasil que gera um certo consenso costuma estar errado...No colégio, eu tinha um professor de história que fazia provas teste, apresentando duas sentenças, e as alternativas eram algum tipo de relação entre as frases, algo como "as duas afirmações estão corretas, mas a segunda não explica a primeira".

Então, nesse caso, acho que é isso: sou totalmente a favor do desarmamento, mas tomar isso como a grande solução para evitar esse tipo de caso que aconteceu no RJ é besteira. O furor com o que se discute, agora, esse assunto, só pode ser entendido como a necessidade de se ocupar de algo.

Por que sou a favor do desarmamento (do ponto de vista jurídico, ou seja, a proibição total do porte e uso de armas de fogo por civis)? Bom, são vários motivos. Na verdade, acho que a pergunta deve ser invertida: em uma democracia, o uso da força é exclusividade das forças de proteção do Estado. Existem motivos para permitir que civis portem armas? Acho que, de forma geral, esgotamos esse motivos. Por exemplo,o argumento do direito individual: uma irresponsabilidade de alguns não pode privar o direito de muitos. Mas direito vem unido com responsabilidade, com arcar com ônus e bônus. E quem arca com o ônus da arma? Não é o portador. Estatísticas mostram um alto percentual de acidentes com crianças (por pais que tem armas e não conseguiram esconder direito), de armas "legais" sendo roubadas e armando ainda mais a bandidagem etc. Uma outra estatística é a que mostra que a maioria dos homicídios é de proximidade: briga de trânsito, disputas familiares ou de vizinhos etc. Quem arca com esse custo social? Aí vem aquele argumento "ah, mas automóveis matam mais do que armas, vamos proibir também os automóveis?". Deveria ser óbvia a diferença, mas vá lá: o objetivo principal de um automóvel é locomoção - causar acidentes é um desvio. Qual é o objetivo principal de uma arma mesmo? Ai tem aquele outro arguemento, de que há áreas do país que o Estado não alcança e as pessoas precisam se proteger: quer dizer que, nessas áreas, o Estado não chega para trazer proteção, mas chegaria para punir alguém descumprindo a lei de desarmamento? Ora essa, se vamos ser ser coniventes com a própria falta de competência do Estado, não sejamos em termos de legislação - sejamos na prática, tendo leniência com a fiscalização e punição em especificidades regionais.

Isso tudo posto, continuo achando que uma coisa não tem muita relação com outra - um doente mental, com um plano trágico como esse maluco do RJ tinha, vai dar um jeito de arrumar uma arma. Alguém que "desistisse" do seu plano por uma dificuldade adicional de achar uma arma não estaria, nem de perto, no nível de desequilíbrio para tomar uma atitude dessas. Tampouco parece-me razoável discutir "segurança" nas escolas - primeiro porque não conseguimos nem bons professores de português e matemática, vamos conseguir um nível satisfatório de segurança? E depois, se as escolas estiverem bem protegidas, qual será o próximo passo? Hospitais, shoppings, igrejas? Alguém com esse intuito pode achar o lugar que bem entender para promover o terror - vide o caso do cinema em sp ou do maluco que bateu com o taco de baseball na cabeça do outro numa livraria. O desarmamento, além de conceitual - estabelecer na constituição que, não, o cidadão comum não tem direito a fazer uso desse tipo de força para "se defender" - tenderia a diminuir essa morte por proximidade. Em alguns momentos, a ocasião faz o ladrão - a briga, a discussão, a rixa, poderiam acabar de maneira menos trágica se o cabra não tivesse uma arma em casa; não fosse assim, não teríamos especificação, na legislação, de homicídio premeditado. Mas o mundo moderno, infelizmente, terá de conviver, de tempos em tempos, com eventos como esse do RJ.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Top Chef

Aproveitando a fase de baixa produção bloguística, vou entrar no embalo do texto da Deise sobre o Seriado Top Chef e postar um texto que eu tinha escrito sobre um episódio desde mesmo seriado, mas nunca tinha postado.

* * *

Já escrevi textos aqui inspirados em algum episódio dos seriados que costumo assistir. Dessa vez, o seriado é Top Chef, uma espécie de reality show com chefs de cozinha. Gosto do seriado porque alia coisas de legal de cozinha - os desafios são sempre preparar algum tipo de prato, um menu, uma sobremesa - com os conflitos entre as pessoas característicos de um reality. Pena que não assisto mais porque, além de nem saber o dia e horário que passa, não consegui achar para baixar na internet. Esse episódio que inspirou o texto eu peguei de orelhada - não estava acompanhando a temporada episódio a episódio.

Enfim, ao episódio: é uma etapa das mais conhecidas para quem acompanha o programa, chamada de "restaurant war" - os chefs são divididos em quatro grupos, e cada grupo tem 1 dia para montar um restaurante com menu próprio. Eles tem de pensar num menu simplificado (duas entradas, dois pratos principais etc), uma hora para comprar os ingredientes, três horas para pré-preparar os pratos quando, no final, um grupo de pessoas e os jurados comerão nos 2 restaurantes e farão julgamentos. Como disse, não estava acompanhando a temporada, então minhas impressões são apenas desse episódio. Um dos grupos parecia mais unido, e já tinha ganhado o desafio anterior; as decisões eram tomadas em comum acordo dos participantes, de maneira mais harmoniosa - tudo parecia fluir mais tranquilamente. Já o segundo grupo parecia mais segregado, mas tinha um chef que (pelo que entendi, os jurados consideravam esse jurado um dos melhores participantes) meio que mandava no grupo: discutia todas as sugestões, barrava as que não pareciam fazer muito sentido, tentava coordenar o grupo - claro, à custa da cara feia dos outros chefs e, durante as etapas da competição, até algumas rusgas.
Bom, acontece que o segundo grupo, do chef brigão, ganhou o desafio. Ganhou não, deu um baile, a ponto dos jurados comentarem que o desempenho deles tinha sido o melhor das seis temporadas do programa, enquanto o outro grupo foi criticado em quase todas as decisões - menu, execução de prato, atendimento no salão etc.
A tarefa que os participantes tinham que desempenhar era de extrema pressão, e exigia, entre outras coisas, capacidade de decisões acertadas em curtíssimo prazo (coisa que, parece-me, é bem característica da atividade de Chef). Capacidade de raciocínio rápido, bom senso e eficiência não são habilidades comuns na maioria das pessoas - é para isso que existem líderes, alguém que (supostamente) tenha a capacidade de direcionar o grupo para ações de maior eficiência. Guardadas as devidas proporções, há certas situações que o "bom mocismo", a gentileza, a preocupação excessiva com o sentimento dos outros não se coadunam com o bom resultado prático: o grande cirurgião na emergência não vai pedir ao médico iniciante "por gentileza, você pode fazer esse corte aqui, porque sabe, aqui passa a artéria xpto..."; grandes generais da história, que ganharam grandes batalhas, não deviam discutir minuciosamente seus planos de guerra com muitos subordinados; técnicos de sucesso, como Telê, Felipão, Luxa, Muricy, Mourinho, não são amiguinhos dos jogadores nem pedem "por favor, v. sa. deve acompanhar o volante do outro time até o final, viu...".
Não se trata de pregar a falta de tato com as pessoas, é apenas que, às vezes, não dá para se preocupar tanto com isso. No caso dos chefs, o cara pode ter ferido sentimentos, mas levou o grupo a uma grande vitória e todos se safaram da eliminação. Em empresas, isso acontece também: é comum os "chefes" terem como característica algo que flutue entre "o chefe gente boa mas que não te consegue um aumento", justamente porque os resultados são fracos, e o "chefe meio casca grossa mas que consegue tudo que quer", porque ele dá muito resultado e, consequentemente, tem moral com o povo de cima. Claro, existem pessoas - e eu mesmo já tive chefes assim - que aliam um pouco das duas características, mas é incomum.
Cafuné não enche barriga, e afinal para isso que a gente tem mãe, esposa, namorada...no trabalho, as vezes é mais importante produtividade, eficiência, nem que isso custe um pouco de delicadeza. Não sei se isso é característico do brasileiro, mas sinto que a gente tem a tendência de hipervalorizar o "bonzinho" inepto que, no final das contas, produz muito pouco.