sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Sobre Imprensa golpista ou esquizofrenia

Eu me interesso por política e costumava ler vários blogs que tratam do assunto. De uns tempos para cá, parei de ler vários para ler alguns; o tal do "isentismo" me encheu e, deixando a hipocrisia de lado, passei a privilegiar aqueles que notadamente seguem a mesma linha política que eu. Sim, porque todo mundo tem lado, e nada pior do que ler um texto de alguém supostamente "isento" sendo construído sobre argumentos que atropelam a lógica para, no final, deixar mais ou menos explícito o porquê aquele candidato ou partido é melhor do que o outro.
Mas em tempos de eleição, por curiosidade, dei uma passeada no que diziam os blogs "deles" - a saber, blogs que apoiam claramente a candidatura da Dilma. E uma coisa me chamou a atenção - talvez não devesse: o papel que eles estão atribuindo a imprensa nessa disputa de eleição, de "golpista", de ter abraçado claramente a candidatura do Serra e de não sei mais o quê.

Talvez o exemplo que fosse mais favorável a essa análise "deles" seja a imprensa de São Paulo: Estadão, Folha, Veja (não é só para São Paulo, mas é uma revista muito lida no estado). Vou deixar a Veja para depois - falemos antes de Estadão e Folha.

O estadão, alguns dias atrás, tomou partido abertamente. Talvez nem precisasse, pois a leitura do jornal ao longo do tempo por um leitor atento já indicaria as suas tendências. Fez um editorial explicando porque era a favor da candidatura Serra. Mas, isso posto, dificilmente você vê uma cobertura jornalística tendenciosa - não costuma haver mentiras, nem ilações perigosas, no geral apenas fatos sendo noticiados. Não raro você lê uma notícia e pensa "humm..esse jornalista tá com jeito de ser petista". A opinião costuma vir no editorial. No espaço dos colunistas, cansei de ler opiniões diversas ao que poderia ser considerado "opinião do jornal". No site do jornal, no trecho de política, há rigorosamente o mesmo espaço para notícias da candidatura Dilma e da candidatura Serra - e as notícias não são necessariamente ruins ou boas para cada lado.

À Folha está sendo atribuído um tal "tucanismo"; mas quem acessar a página on line do jornal verá, com muita probabilidade, na parte de política, 4 notícias da candidatura Dilma para 1 sobre o Serra; falando sobre "Lula diz não sei o quê sobre tal coisa", "PT planeja não sei o que"...reparei nos últimos cinco dias e é bem assim. Lembro que no governo FHC alguns conhecidos não gostavam da folha porque era excessivamente oposicionista; havia críticas contundentes a quase tudo que o governo fazia. Vai ver nessa época o PT achasse a Folha muito democrática...na última vez que eu li a Folha, seus três colunistas diários na primeira página eram o Clóvis Rossi, o Cony e a Eliana Catânhede. Não seria errado identificar os 2 primeiros mais com o PT do que com PSDB; e a terceira não é propriamente uma tucana.

Um professor meu citou, duas aulas seguidas, um texto do Leonardo Boff que dizia que, em linhas gerais, esse posicionamento da m´dia se deve a um grupo de família, donas dos maiores canais de comunicação, que sentiram que um determinado projeto político (pt / popular) ameaçava os seus privilégios, e então decidiram atuar. Por motivos que não vem ao caso, tenho um amigo muito próximo à família dona da Folha, e esse amigo atesta que, até uns 3 meses atrás, pessoas da família estavam realmente pensando em quem votar. Mas claro, o Leonardo Boff não sabe disso - nem precisa, afinal as teses dos supostos esquerdistas podem ser amparadas somente pelas suas especulações teóricas.

Agora, a Veja: aqui realmente dou o braço a torcer. A Veja é claramente pró-psdb - e isso afeta até a maneira de montar suas reportagens. Mas a Carta Capital, por ex, é o negativo da Veja - assim como a primeira, também traveste proseletismo político de jornalismo. Talvez a diferença entre as duas é que a Veja é de um grupo jornalismo grande, de maneira que, por mais que haja um alinhamento de pensamento entre os diversos setores de reportagem, é um pouco mais difícil uma grande unicidade. A Carta Capital tem um dono que manda e desmanda...mas talvez o que mais incomode os petistas é que a Veja deve ter umas seis vezes mais circulação do que a Carta Capital.

A tão temida Globo, para não fugir a uma questão principal, foi bem dócil com o governo lula nos últimos 8 anos. Não se furtou a noticiar os sucessivos escândalos, mas tomou muito, mas muito mesmo, cuidado para não, digamos, ferir sentimentos dentro do governo. Assim como fez com governos anteriores, diga-se de passagem...

Isso posto, não fica outra conclusão senão associar esse tipo de pensamento sobre uma suposta "imprensa golpista" a toda esquizofrenia que ronda os ditos "esquerdistas". É aquela velha questão: se você discorda, deve ser reacionário, elitista, quer manter o status quo - porque, afinal, como alguém pode ter uma outra opinião? Quando uma força potente como a mídia tem uma parcela considerável que não está propriamente aderida a causa deles, aí incomoda bastante...ou, para ficar numa linguagem popular, "pimenta no * dos outros é refresco".

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