domingo, 6 de fevereiro de 2011

direita, esquerda

Eu tinha escrito esse texto na época das eleições, mas por alguma razão, acabei não postando. Agora vai...

Direita e Esquerda, em política, são termos oriundos da Revolução Francesa, na qual a burguesia, revolucionária (quem escuta o termo 'burguês' hoje em dia e desconhece História não imagina que a Burguesia, um dia, já foi revolucionária), ficava à esquerda no Parlamento, enquanto a Aristrocracia, conservadora, ficava à direita. Desde então, em política, usa-se o termo para caracterizar, de maneira bem genérica, alinhamentos políticos. A esquerda seriam os revolucionários, os que desejavam subverter (sem sentido depreciativo) a ordem estabelecida, em especial para estabelecer direitos e oportunidades iguais a todos - por extensão, a esquerda fica caracterizada como os que buscam, então, justiça social. A direita seriam os conservadores, do ponto de vista de costumes - que querem manter a ordem e o respeito a certas circunstâncias estabelecidas - e, do ponto de vista econômico, a partir do Século XX, partidários de uma economia liberal.

Não sou cientista político, mas parece óbvio, e muitos especialistas afirmam isso, que a classificação em direita e esquerda, hoje em dia, perde muito o sentido. Torna-se uma simplificação de uma gama de pensamentos que se alinham e desalinham, em cada aspecto da administração pública correntes ideológicas diferentes podem ter opiniões parecidas ou completamente divergentes. Mas como é comum, ainda hoje, usar essa divisão, vamos lá.

Onde está a Direita no Brasil? Hoje, em época de eleição, vemos um campo partidário completamente polarizado entre dois grandes partidos de centro-esquerda: PT e PSDB.(Nesse ponto imagino que alguém que esteja, eventualmente, lendo esse texto, possa ser pergunta "epa, PSDB de centro-esquerda?", então acho justo fazer uma pequena digressão: sim, centro-esquerda, com certeza. Tenho minhas críticas e minhas aprovações aos 8 anos de governo FHC no Brasil, mas um governo que aumentou impostos, não desinflou o Estado e criou uma estrutura de distribuição direta de renda, que serviu de base para que o governo posterior fizesse o bolsa-família, não pode ser considerado de direita em nenhum lugar do mundo. Inclusive, comparando a política macro-econômica dos 8 anos de governo do PT com as criticas que José Serra já fazia à política econômica do Malan, e não restará dúvidas que, em termos de economia, Serra poderia ser considerado à esquerda do PT!). A "opção alternativa" na eleição presidencial é uma candidata claramente identificada com setores de esquerda - inclusive recém saída do PT. Entre os nanicos, aqueles partidos com traço de intenção de voto e que tem 30 segundos na propaganda eleitoral para passar alguma mensagem são, quase todos, de extrema esquerda - PSOL, PSTU, PCO etc. Então, cadê a direita?

Alguém, provavelmente simpático aos ideias de esquerda, poderia perguntar: po, isso não é bom? Não é uma evolução política que não haja mais espaço para esses reacionários, conservadores? Muito pelo contrário. Não estou questionando preferências políticas individuais, estou discutindo espaço social para repercussão de idéias diferentes. Nos Estados Unidos, republicanos (mais associados ao conservadorismo) e democratas (mais associados ao que se assemelha a setores de esquerda) tem tanto equilíbrio de poder que, invariavalmente, acabam se revezando no governo de 8 em 8 anos. Dependendo da questão crítica no momento, pode pender mais para um lado ou para o outro. Na maioria dos países fortes da Europa, como Inglaterra, França e Alemanha, a direita tem apresentado uma força eleitoral crescente, chegando a ganhar até eleições em determinados momentos. E só o Brasil é politicamente evoluído o suficiente para ter "banido" a direita do mapa?

Mesmo que se continue usando os termos genéricos "esquerda" e "direita", é forçoso estabelecer em quais aspectos as diferenças aparecem. A esquerda está associada, diretamente, com quem deseja mais justiça social. Por extensão, a defesa de uma melhora na educação, na saúde, no transporte público, mais emprego, aumento da renda etc, ou seja, tudo que signifique melhora de vida, em especial para a população de baixa renda, fica caracterizado como exclusividade da esquerda. É justamente um discurso político que, entre a década de 90 e os anos 2000, o PT ajudou a disseminar: não é possível haver uma discussão de método, de meios para alcançar os diferentes fins; se você discorda, é porque você é contra a melhora, a justiça social. No Brasil, "direita" é reacionário, é elitista, é aquele que quer manter o status quo, porque assim a sua dominação maléfica permanecerá oprimindo os mais pobres (aperte a tecla sap, por favor). Em pleno século XXI, é uma sandice pensar que qualquer político, com um projeto de governo mininamente razoável, não considere que educação, saúde, transporte, habitação, segurança pública etc não sejam prioridades. O que difere, em essência, é o meio pelos quais cada corrente ideológica imagina ser melhor alcançá-los. Se a economia não vai bem, e falta emprego, um governo de esquerda estabeleceria que cabe ao governo criá-los, por meio de estatais, obras públicas, ou até minimizar o problema por meio de distribuição direta de renda. Um governo de direita estabeleceria que cabe ao governo criar as condições favoráveis para que a iniciativa privada voltasse a investir, estimulando a economia e gerando empregos de forma sustentável. Um governo de esquerda acredita em um Estado forte, poderoso, atuando em diversos setores da economia, com uma forte regulamentação da vida econômica. Um governo de direita acredita que o Estado deve ser manter apenas onde sua função é essencial, como saúde, educação de base e segurança; que em todos os outros setores deve haver regulamentação, mas que a iniciativa privada, devidamente regulamentada e controlada, é muito mais eficiente e menos sujeita a corrupção para tocar as atividades da economia. Como utopia, um governo de esquerda acredita, no final das contas, que todos são iguais e, portanto, deveriam ter as mesmas coisas. A utopia de um governo de direita é que todos devem ter a liberdade para exercer as suas opções e, portanto, cabe ao estado garantir o mínimo para uma sobrevivência digna de todos, como forma de assegurar a liberdade - mas que a partir daí cada um constrói a sua vida da maneira que bem desejar. Um governo de esquerda pode conceber que, em nome da justiça social e do aumento da igualdade, que alguma pequena transgressão possa ser cometida, inclusive em nível institucional, se no final das contas essa transgressão for positiva para esse objetivo maior. Um governo de direita atesta que o respeito aos princípios da democracia e da constituição está acima de tudo - em suma, que os fins não justificam os meios.

Será que essa oposição de ideais é tão absurda a ponto de, hoje, inexistir direita no Brasil? No período anterior e durante a ditadura, era comum a expressão "comunista come criancinha". Hoje em dia quem come criancinha é direitista reacionário...

4 comentários:

  1. pô, da maneira que vc colocou eu me considero mais à direita que o mussolini..

    mas pq esses caras - mussolini, hitler, franco, pinochet - são propagandeados como extrema direita, na sua visão?

    muito bom o texto!

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  2. Será que eles já estavam, antes de tomar o poder, associados a partidos de "direita"?

    Já Stalin e Fidel Castro seriam de extrema esquerda....
    Acho que os termos direita e esquerda são mais adequados quando há uma disputa ideológica, com troca livre de posições e idéias (o "como fazer" citado no post). Talvez as ditaduras devessem receber um terceiro rótulo.
    Daniel

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  3. humm...boa pergunta; talvez um pouco do que o Daniel disse, de ditaduras poderem se encaixar em um outro rótulo, pq afinal são os mesmos meios e fins com justificativas ideológicas diferentes. Outro ponto é que, teoricamente, ditaduras de direita assumem o poder para "garantir o cumprimento da ordem estabelecida", enquanto uma ditadura de esquerda seria revolucionária, para instaurar uma nova ordem. Mas uma diferença é que um projeto de direita não necessita de uma ditadura, quando ela acontece é uma desvirtuação; já um projeto clássico de esquerda éconcebido como ditadura por premissa (ditadura do proletariado, primeira e segunda fase do comunismo etc).

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  4. Caraca, excelente resumo...

    Li recentemente um artigo que comentava a vitória incontestável do capitalismo sobre o socialismo.

    O socialismo clássico já era. A China virou capitalista, Cuba tá terminando de ir pro vinagre, o bloco soviético acabou e ninguém por lá pensa em voltar atrás. O Lula subiu ao poder abrindo mão de seu radicalismo de esquerda.

    Estou seguro que o que rola agora é uma disputa entre propostas democráticas e propostas totalitaristas. A esquerda depende da ditadura, pois quer forçar as pessoas a mudarem, em busca de uma nova ordem ( onde eles se dão bem...)

    Partidos de esquerda são muito focados em propaganda e comunicação. Com isso eles
    buscam convencer que ditadura de direita é horrível enquanto ditadura de esquerda é um mal menor na busca da igualdade entre os homens.

    E conseguem de certa forma, pois todo mundo mete o pau no Pinochet, Mussolini e se esquece de um Fidel, Chavez, o maluco da Coreia do Norte...sem falar em Lenin e Stalin

    Eu tendo a achar que os partidos de esquerda acabam atraindo personagens de tendência totalitária ( alô Lula! alô Dilma!), que estão em busca do poder. É o tipo de gente que alardeia uma disputa direita x esquerda quando o que está rolando na verdade é uma disputa do poder entre democratas e ditadores.

    De qualquer forma, ótimo resumo!

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